Coisas demais para pessoas de menos

Estamos vivendo numa época onde tudo tem que ser agora, se você tem vinte anos e se atreve a dizer em voz alta que não sabe o que quer da vida, as pessoas te olham de forma estranha. Se você não está feliz na faculdade as pessoas dizem: termina essa, depois faz a que você quer. Mas o que muitas delas não entendem (ou fingem não entender) é que estamos ficando velhos, o tempo não para nem um segundo, e hoje em dia você tem uma data limite, um prazo de validade. Tem que conseguir entrar na faculdade, terminar, arrumar um emprego que pague bem, comprar um carro, uma casa, conhecer o exterior, falar três línguas, tudo isso antes dos vinte e cinco anos. E ficamos frustrados por não conseguir tais proezas. Ficamos frustrados pelos comentários maldosos das pessoas. Ficamos frustrados porque as coisas estão ficando mais difíceis a cada dia, e só quem está passando por isso sabe o tamanho do estresse, do medo do futuro, da angustia que carregamos no peito.

Tenho vinte anos, faço uma faculdade que não gosto, e estudar a matéria é quase um sacrifício para mim, e nem sei se a tão nomeada faculdade dos sonhos é a certa. E a pressão é maior ainda: se eu entrar nela e no meio descobrir que estou no lugar errado?

Renata, assim não dá, tem que crescer, tomar responsabilidades. Comece a agir como adulta.

Estamos vivendo numa época que todos querem dá bitaco na sua vida, mas ninguém quer te ajudar a carregar o fardo que é vive-la, passar pelos seus problemas e ainda ter que ser simpático com os preocupados de plantão que só servem para aumentar mais ainda a pressão que é ser você.

E seu eu dizer que no meio de um vestibular tive uma crise de ansiedade? E se eu dizer que isso aconteceu por tá sobre pressão, estar ficando velha (com apenas vinte anos) e ter que dá um jeito na minha vida? E se eu dizer que quase fiz um concurso para um emprego que não era o que eu queria, só porque as pessoas (que acham que sabe o que é bom para mim) disseram que eu tinha que fazer? E seu eu dizer que acordo todo dia com a frase: “tenho que dá um jeito na minha vida, mas não sei como” na minha cabeça?

Não fomos programados para descobrir nossas paixões, para sermos felizes trabalhando, para rir alto na rua, cantar no transito, fazer passos esquisitos sem chamar atenção. Não fomos programados para sermos felizes. Fomos programados para ter uma vida medíocre, para fazer a faculdade que vai nos render mais dinheiro no final, trabalharmos feito loucos para ostentar carros caros, roupas brilhantes e viagens com sorrisos falsos mostrando amores rasos que só se baseiam em aparência e dinheiro. E no final de tudo, iremos passar isso para nossos filhos.

Somos humanos, temos necessidades, medos, anseios e desejos; mas agimos como robôs. Não podemos demostrar amor, porque seremos carentes demais. Não podemos chorar até acabar as lagrimas que temos, porque seremos fracos demais. Não podemos demostrar muita simpatia, porque seremos falsos demais. Não podemos nos permitir ter um dia ruim, porque seremos mal educados demais. Tudo é demais, mas nós somos de menos.

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